Alguns momentos com o Tempo

Realmente poderia comportar-se de várias formas diferentes e melhores, mas é assim que fica por um tempo, não é controlado, não é de propósito, acontece e não há felicidade nisso. Depois de uma infância regada a machucados, cicatrizes, feridas, o pior de crescer é que pára de machucar a carne e fere-se com facilidade a alma, aaah, essas feridas são intensas, prolongadas por noites de choros, pensamentos de “porquês”, “comos” e “poderiam ser diferentes”, mas palavras do Aslam fazem tanto sentido.

“Dizer o que teria acontecido? Não, a ninguém jamais se diz isso.

Oh, que pena! – exclamou Lúcia

Mas todos podem descobrir o que vai acontecer – continuou Aslam.”

E essa caminhada segue, não dá para parar [ta, dá sim, mas não por muito tempo], e quando menos se espera parece que o sol sorri para você dizendo: “é hora de abrir as janelas, deixar os raios entrarem, o vento refrescar o ambiente, ver folhas antigas caírem e novos ramos surgirem” [gosto de pensar nisso às vezes], mas passa-se muito tempo dentro de casa, aquele inverno que durou, o sol tá te chamando é para tentar e não para acontecer, é treinamento, é vontade. Alguém já viu O Jardim Secreto? O garoto teve que aprender, na verdade todos aprenderam.

E vai pescar na mente tudo que há de bom, e afundar no rio tudo que não é bom, não é a idéia de esquecer, é a idéia de fazer o positivo ser mais que o negativo. É a coisa de sorrir das coisas mais bobas, de voltar olhar estrelas, de admirar a lua e conversar com Deus no quintal, é correr do amigo na praia, é abraçar por longo tempo, é rir das coisas que ele fala e que não fazer idéia da graça, mas tem toda a graça, é ouvir música de olhos fechados, é querer que a chuva molhe você, são tantas as coisas, tantas...

Ter lembranças é ótimo, fazer lembranças ótimas é melhor ainda.

“[...]. Só quem já provou uma comidinha quente preparada pela tia ou um suquinho fresquinho da fruta que a funcionária da casa acabou de colher do pé sabe que a lasanha de microondas não tem gosto de nada.

Só quem recebeu uma carta – aquelas coisas que os antigos usavam para contar suas vidas, dar seus recados, começar e romper romances – reconhece o valor de um texto escrito a mão.

Só quem já dormiu depois de um longo cafuné, teve cravos espremidos – um a um – pela prima, jogou buraco com os amigos madrugada adentro e fez colagens de fotos (aplicadas com recortes de revista) é capaz de grandes atitudes.

Porque todos esses gestos – e tantos outros mais – precisam de tempo. Tempo bem gasto, bem empregado, dividido, doado. Tempo que só encontra com muito amor.”

- O maior e único luxo – Bruno Astuto

Ainda bem que mesmo não seguindo passo por passo, já fiz tudo isso.